sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Lembrar Llansol no Texto Lido

Maria Gabriela Llansol faleceu a 3 de Março de 2008 e desde então foram apenas publicados dois livros: Uma Data em Cada Mão - Livro de Horas I (2009) e Um Arco Singular - Livro de Horas II (2010). Porém, segundo o Espaço Llansol, o seu espólio é constituído por 25.452 páginas digitalizadas: 

Cadernos 1º Núcleo - 17.541 páginas; 
Cadernos 2º Núcleo - 5.347 páginas;
Agendas - 2.280 páginas;
Blocos de Notas: 284 páginas. 

O trabalho dos colaboradores do Espaço Llansol é louvável, com uma determinação legente e uma amizade altruísta. No entanto, a edição não corresponde à dedicação que estas pessoas tem oferecido ao texto llansoliano. 

Em Portugal, os espólios demoram demasiado tempo a passar a texto publicado. Por exemplo, Jerónimo Pizarro, na Revista Ler de Setembro de 2012, diz que cerca de 30.000 páginas do espólio de Fernando Pessoa continua por editar. De facto, parece peculiar que um escritor como Pessoa, que faleceu a 30 de Novembro de 1935, continue a ter textos por editar.   

O texto precisa do leitor e o leitor do texto. É essa misteriosa afinidade que preserva uma teia de vida entre um e outro, daí a importância de publicar o espólio, pois o leitor deve ter um acesso completo a obra de um autor, só assim poderá compreender e amar aquelas palavras que libertam, que iniciam um caminho de descoberta, de novidade e de espanto. É essa repetição do entusiasmo da primeira leitura, sempre renovada no texto lido, que confere ao leitor/legente esse assombro inaugural. Logo, o texto por editar e o livro esgotado assumem uma marca de impossibilidade, negando ao cantor de leitura a palavra que pede o seu olhar. 

Repensar a publicação dos espólios é uma necessidade cultural e humana e o texto de Llansol - e de Pessoa - precisa de ser lido para ser lembrado. 

  

Maria Gabriela Llansol

Uma Data em Cada Mão
Livros de Horas I

Assírio & Alvim

2009






Maria Gabriela Llansol

Um Arco Singular
Livro de Horas II

Assírio & Alvim

2010





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