A Morte de Virgílio de Hermann Broch é umas das maiores obras da literatura universal. A personagem principal, o poeta latino Virgílio, autor da Eneida, não é apresentado como na Comédia de Dante, um guia, uma mestre, aquele que aponta o caminho, nesta obra, olhamos, pela força lírica das palavras, para um Virgílio moribundo, com a morte invadindo-lhe a carne. O poeta tem o seu coração inquieto, duvida do sentido e do valor da vida, valor este que, no seu caso, foi alcançado pela arte, enquanto expressão da vida. Porém, quando a morte se aproxima, a importância da arte é posta causa, perde, aparentemente, o seu sentido, daí que Virgílio queira destruir a sua grande obra. O texto expressa esse desencanto nas palavras: "para se reconhecer a vida, não é preciso a poesia" (II,101), "o que eu escrevi tem de ser consumido pelo fogo da realidade" (II, 22). O conhecimento da vida depende do conhecimento da morte.
Maria Filomena Molder, em O Absoluto que Pertence à Terra, livro dedicado a Broch, diz que "o conhecimento da morte revela-se na transformação do tempo em espaço" (73). Ora é precisamente nesta transformação do tempo em espaço que podemos encontrar, através do conhecimento da morte, esse absoluto que pertence à terra. A relação de conhecimento - ou de reconhecimento - entre a vida e a morte, alcançada pelo valor da vida, o qual indica também o sentido da arte, permite que alcancemos uma forma de redenção. O Anjo da Terra garante, neste processo de transformação, um gesto de dádiva, um toque que purifica.
A Morte de Virgílio representará sempre uma leitura inacabada, pois em cada página, cada frase, cada palavra podemos encontrar um olhar renovado. As grandes obras concedem-nos as bênçãos da novidade e do espanto.
A Morte de Virgílio
1º Volume
Trad. Maria Adélia Silva Melo
Relógio D´Água
S/d
Hermann Broch
A Morte de Virgílio
2º Volume
Trad. Maria Adélia Silva Melo
Relógio D´Água
S/d
Maria Filomena Molder
O Absoluto que Pertence à Terra
Edições Vendaval
2005
Sem comentários:
Enviar um comentário