sábado, 5 de outubro de 2013

Da Ignorância - II

De facto, como se concluiu anteriormente, a Ignorância é o pior dos males, quer seja pela imposição de uma estado - ignorância passiva -, quer seja por uma vontade deliberada - ignorância activa. A rejeição de uma demanda da sabedoria e de um fomento das condições necessárias para o conhecimento representam sempre um verdadeiro "mal-estar da civilização".

Podemos dizer, num estilo metafórico, que da Ignorância nasceram dois filhos, dois gémeos inseparáveis, a Ilusão e o Engano. Da Ilusão, podemos distinguir também dois tipos: a que provém do exterior e a que nasce no interior. A primeira conduz a um estado de alienação, de indiferenciação com o mundo que nos rodeia. Esta revela-se como uma manipulação, consciente ou inconsciente, da realidade. A segunda gera um estado auto-induzido de esquizofrenia antropológica. O humano perde a consciência de si e rompe o laço da sua verdadeira natureza. Em síntese, o ser anula-se a si mesmo. 

O Engano devemos, em primeira análise, distingui-lo do pecado, uma vez que o seu sentido tem uma maior afinidade com a noção grega de amartía que, na etimologia arcaica, indica o acto de falhar o alvo. A flecha erra o seu destino, a sua finalidade. Porém, o Engano não anula a possibilidade, a redenção. Devemos, portante, inseri-lo numa perspectiva didáctica, a qual só se torna possível se estiver vinculada à Vontade, Vontade esta que está orientada no caminho da Sabedoria. Só assim o Engano poder-se-á libertar das teias da Ignorância e da Ilusão.

A Ignorância, a Ilusão e o Engano representam a trindade do mal que é a oposição e o contraste da verdadeira Trindade. As três manifestações do Uno, do Indeterminado são a Vontade, a Sabedoria e o Amor.   


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