CITAÇÃO
O dinheiro não só não tem coração, como não tem honra nem memória. O dinheiro é automàticamente respeitável desde que se conserve algum tempo.
Steinbeck, John, O Inverno do Nosso Descontentamento, p. 70. Tradução João Belchior Viegas. Lisboa: Livros do Brasil, 5ª Edição, 2002.
FRAGMENTO
O século XX foi determinante para a criação e preservação dos regimes democráticos. A sociedade, aparentemente, evoluiu. O desenvolvimento tecnológico, o aumento da esperança de vida e as melhorias nas condições de vida - saúde, higiene, alimentação, educação e trabalho - criaram à esperança vã que a pobreza ia diminuir, tornar-se residual. No entanto, a realidade é outra, o que é prova de que o dinheiro não tem coração, honra ou memória. Os Estados firmaram a Democracia, mas tornaram-se reféns do dinheiro. As entidades virtuais - mercados e agências de rating - minaram a autoridade que, supostamente, pertencia aos cidadãos e, com essa privação de autonomia, a pobreza cresceu. O caso português ilustra esse embuste. Veja-se o caso BPN. Em nome da sustentabilidade financeira e bancária, os contribuintes caíram num poço sem fundo. O Governo decidiu vender o banco nacionalizado a preço de saldo, 40 milhões de euros, e agora ainda tem de participar nas perdas, prejuízos, dessa aquisição pelo BIC, mais de 100 milhões. De facto, o dinheiro não tem coração, pois é oferecido em esquemas que em nada salvam aqueles cidadãos que se viram afundados na pobreza. Os direitos humanos que pareciam um pilar da sociedade moderna estão ameaçados por este tipo de acções. O valor do humano é destruído em nome de algo que não se vê e que não tem qualquer relação com a vida das pessoas. O respeito pelo dinheiro só existe para quem o tem e para quem o pode preservar. Os outros, a maioria, vivem assombrados por esse rosto nefasto que é a pobreza.
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