segunda-feira, 15 de julho de 2013

Entre a Citação e o Fragmento (3)

CITAÇÃO

   Os contestatários do livro e os seus inimigos têm estado sempre entre nós. Os homens e mulheres do livro, se me é permitido retomar e alargar esta apurada categorização vitoriana, não param senão esporadicamente para pensarem na fragilidade da sua paixão.
   Em 1821, na Alemanha, obrigado a pronunciar-se num período inflamado pelo nacionalismo em que foram queimados livros, Heine fez notar que «No lugar em que agora queimam livros, hão-de queimar homens amanhã.» 

Steiner, George, O Silêncio dos Livros seguido de Esse Vício ainda Impune de Michel Crépu, p. 34. Tradução de Margarida Sérvulo Correia. Lisboa: Gradiva, 2007.

FRAGMENTO

Caímos num engano, se pensarmos que a democracia, na sua nobre defesa da liberdade de pensamento e de expressão, anula a fragilidade do livro. Um livro, para permanecer fiel à sua essência, necessita de leitores. Ora o autor para tornar o seu texto lido precisa de recorrer à subjectividade de critérios do editor e, neste aspecto, pesam as suas escolhas pessoais, a linha editorial e comercial da editora que representa e o potencial de leitores a que se destina. Por outro lado, se, devido a uma aglomeração em grupos editoriais ou uma extinção por dificuldades financeiras, escassearem as editoras, então a divulgação de um texto fica condicionada, sobretudo se o mesmo tiver um carácter heterodoxo, contra-corrente, pois existirão sempre factores que restringem essa ordem natural do livro que é a dádiva ao leitor, sejam elas de ordem social, política ou cultural. Em suma, tanto em ditadura como em democracia, o livro permanece frágil. 

Sem comentários:

Enviar um comentário