CITAÇÃO
"Não é de pouca importância para um príncipe a escolha dos ministros, os quais são bons, ou não, segundo a prudência do príncipe. E a primeira conjectura que se faz do cérebro de um senhor é ver os homens que ele tem em redor: quando são competentes e fiéis, pode-se sempre reputá-lo de sábio, porque soube reconhecê-los competentes e sabe mantê-los fiéis; mas, quando não sejam assim, pode sempre fazer-se dele um juízo negativo, porque o primeiro erro que faz, fá-lo nesta escolha."
"Não é de pouca importância para um príncipe a escolha dos ministros, os quais são bons, ou não, segundo a prudência do príncipe. E a primeira conjectura que se faz do cérebro de um senhor é ver os homens que ele tem em redor: quando são competentes e fiéis, pode-se sempre reputá-lo de sábio, porque soube reconhecê-los competentes e sabe mantê-los fiéis; mas, quando não sejam assim, pode sempre fazer-se dele um juízo negativo, porque o primeiro erro que faz, fá-lo nesta escolha."
Maquiavel, O Príncipe, XXI, 1. Tradução de Diogo Pires Aurélio. Lisboa: Círculo de Leitores / Temas e Debates, 2008.
FRAGMENTO
O que Maquiavel diz neste texto corresponde a um axioma da sabedoria popular. Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. As escolhas nas nossas relações pessoais e sociais definem a nossa identidade. A convivência com pessoas alimentadas por uma moral duvidosa pode minar toda uma estrutura ética - caso ela exista, senão será apenas um caso de união pela semelhança. No caso particular de um príncipe, essa capacidade torna-se de suma importância, pois pode definir e condicionar o sucesso ou o insucesso de um governo. Se um senhor se rodear de ministros incompetentes, desleais, corruptos, medíocres ou ignorantes, então, por muito boas que sejam as suas intenções, todos os seus esforços para uma autoridade justa, adequada e legítima serão frustrados. É impossível permanecer no poder de uma forma estável quando na gestão dos assuntos de um reino, de um povo, estão pessoas que corrompem, destroem a partir do interior, os melhores propósitos, mesmo quando não passam de propaganda. A escolha deve ser sempre alvo de uma dúvida constante e metódica. A pergunta "será que fiz a escolha acertada quando escolhi esta pessoa?" deve permanecer viva no coração daquele que governa - e também daquele que elege. Duvidar de uma escolha e corrigir na acção o erro celebrado é uma forma sábia de permanecer no poder. Ser obstinado e fiel, de forma quase fanática, às suas escolhas pode se tornar num caso evidente de ignorância activa. Certos textos permanecem no tempo, dinâmicos, disponíveis para se relacionarem com a actualidade. O excerto aqui apresentado de O Príncipe de Maquiavel pode oferecer-nos uma nova luz na interpretação do limbo político que se assiste em Portugal. A relação entre escolha e dúvida é um bom parâmetro para medir o governo, ou o desgoverno, a que estamos sujeitos.
FRAGMENTO
O que Maquiavel diz neste texto corresponde a um axioma da sabedoria popular. Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. As escolhas nas nossas relações pessoais e sociais definem a nossa identidade. A convivência com pessoas alimentadas por uma moral duvidosa pode minar toda uma estrutura ética - caso ela exista, senão será apenas um caso de união pela semelhança. No caso particular de um príncipe, essa capacidade torna-se de suma importância, pois pode definir e condicionar o sucesso ou o insucesso de um governo. Se um senhor se rodear de ministros incompetentes, desleais, corruptos, medíocres ou ignorantes, então, por muito boas que sejam as suas intenções, todos os seus esforços para uma autoridade justa, adequada e legítima serão frustrados. É impossível permanecer no poder de uma forma estável quando na gestão dos assuntos de um reino, de um povo, estão pessoas que corrompem, destroem a partir do interior, os melhores propósitos, mesmo quando não passam de propaganda. A escolha deve ser sempre alvo de uma dúvida constante e metódica. A pergunta "será que fiz a escolha acertada quando escolhi esta pessoa?" deve permanecer viva no coração daquele que governa - e também daquele que elege. Duvidar de uma escolha e corrigir na acção o erro celebrado é uma forma sábia de permanecer no poder. Ser obstinado e fiel, de forma quase fanática, às suas escolhas pode se tornar num caso evidente de ignorância activa. Certos textos permanecem no tempo, dinâmicos, disponíveis para se relacionarem com a actualidade. O excerto aqui apresentado de O Príncipe de Maquiavel pode oferecer-nos uma nova luz na interpretação do limbo político que se assiste em Portugal. A relação entre escolha e dúvida é um bom parâmetro para medir o governo, ou o desgoverno, a que estamos sujeitos.
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