Dante coloca os simoníacos no Oitavo Círculo do Inferno. A sua condenação é serem enterrados, de cabeça para baixo, num fosso e, enquanto sufocam, as suas pernas esperneiam e os seus pés são queimados. Malebolge, o Oitavo Círculo, é constituído por dez fossos, ou bolgias. O poeta começa, no Canto XIX, por descrever as dores dos fraudulentos, daqueles que vendem ilusões, promessas de uma salvação futura. O Papa Nicolau III é punido por estes crimes. O sucessor de Pedro diz: "Sob a minha cabeça vais achar / os que me precederam simonando, / e as fissuras da terra vão tapar" (Inferno, XIX, 73-5).
A simonia era uma venda de favores divinos ou bênçãos espirituais e materiais a troco de dinheiro. Um perdão dos pecados podia ser comprado. Tudo se vendia pela salvação da alma e, muitas vezes, pela do próprio corpo. A Igreja evoluiu e hoje condena este crime e pune-o com a excomunhão. No entanto, existem ainda vários sectores da nossa sociedade que continuam a praticar esta "transacção comercial", ou seja, quem se quiser salvar tem de pagar um valor proporcional ao bem alcançado - ou supostamente alcançado.
"Por ouro e prata adulterais" (4) diz o poeta. Os fraudulentos corrompem o humano, furtam a sua dignidade, em nome do ouro e da prata. A simonia de hoje é laica, vende um visão salvífica de um amanhã melhor, uma promessa ilusória de que os sacrifícios vergastados na pele têm uma finalidade. Porém, o pobre que sente o vazio no bolso, mas a imensidão na consciência, começa a perceber que a dor que o fustiga é sem sentido, é incoerente, incompreensível e injusta. Os governos de hoje, os países sob resgate, vendem a necessidade de pagar a dívida pública como se fosse uma indulgência, um perdão pelos pecados nacionais. No entanto, diante do pregador simoníaco, pensa o pobre, que sempre foi pobre, que pecado posso ter cometido quando nunca abandonei um país de pobreza. Se alguém pecou, se alguém cresceu na sua soberba, esse alguém não foi o pobre. Este limita-se a contribuir, contra a sua vontade, com o pouco que tem. Vendem-lhe ilusões, promessas, imagens de um amanhã colorido, todavia, esse tempo não se vê, nem se vislumbra. É o tempo do nada e do nunca. Mas o pregador não desiste, bem pelo contrário, insiste nessa necessidade de perdão.
A simonia é o discurso oficial sobre a austeridade e sobre o pagamento da dívida pública. Leia-se Dante e conserve-se a esperança na punição que lhes está destinada.
"Por ouro e prata adulterais" (4) diz o poeta. Os fraudulentos corrompem o humano, furtam a sua dignidade, em nome do ouro e da prata. A simonia de hoje é laica, vende um visão salvífica de um amanhã melhor, uma promessa ilusória de que os sacrifícios vergastados na pele têm uma finalidade. Porém, o pobre que sente o vazio no bolso, mas a imensidão na consciência, começa a perceber que a dor que o fustiga é sem sentido, é incoerente, incompreensível e injusta. Os governos de hoje, os países sob resgate, vendem a necessidade de pagar a dívida pública como se fosse uma indulgência, um perdão pelos pecados nacionais. No entanto, diante do pregador simoníaco, pensa o pobre, que sempre foi pobre, que pecado posso ter cometido quando nunca abandonei um país de pobreza. Se alguém pecou, se alguém cresceu na sua soberba, esse alguém não foi o pobre. Este limita-se a contribuir, contra a sua vontade, com o pouco que tem. Vendem-lhe ilusões, promessas, imagens de um amanhã colorido, todavia, esse tempo não se vê, nem se vislumbra. É o tempo do nada e do nunca. Mas o pregador não desiste, bem pelo contrário, insiste nessa necessidade de perdão.
A simonia é o discurso oficial sobre a austeridade e sobre o pagamento da dívida pública. Leia-se Dante e conserve-se a esperança na punição que lhes está destinada.
Dante Alighieri
A Divina Comédia
Tradução Vasco Graça Moura
Quetzal
2011
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