CITAÇÃO
A intolerância gera intolerância. Depois de o general Perón ter despromovido Borges do seu posto de bibliotecário, colocando-o como fiscal de galináceos num mercado municipal. Borges disse o seguinte: "As ditaduras geram opressão, as ditaduras geram servilismo, as ditaduras geram crueldade; mas o mais abominável é o facto de gerarem estupidez." A intolerância é uma forma de estupidez, no sentido em que é incapaz de ver a riqueza pessoal e apenas consegue lidar com estereótipos. Pertence à mesma categoria que o preconceito, em que o processo racional é suplantado por um cliché, uma idée reçue.
Manguel, Alberto, No Bosque do Espelho, p. 160. Tradução de Margarida Santiago. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2009.
FRAGMENTO
Este excerto reporta-nos para a necessidade de os intelectuais intervirem na sociedade civil. Os tempos que vivemos são tempos de intolerância e, sendo esta uma forma de ignorância, era esperado que os artistas, os escritores e os pensadores dessem o seu contributo para nos afastar dessa escuridão civilizacional em que estamos cair. Porém, é compreensível a relutância que existe nessa participação. Que intelectual é que estaria dispostos a intervir quando o resultado poderá ser o de deixar as palavras e a arte para sua tornar um fiscal de galináceos? Poucos, muitos poucos, estariam disponíveis para esse sacrifício. Por outro lado, se desejassem essa participação, então onde seria colocada a sua voz? Em blogues esquecidos? Em estações que rádio que não são ouvidas? Em programas televisivos transmitidos de madrugada? Em jornais e revistas que chegam a poucos? Aos intelectuais não está reservado nenhum prime time. Este espaço é ocupado por golpes palacianos de poder, por jogos de corte, por servilismo medíocre e por uma repetição contínua de argumentos vazios e falaciosos. Esse não é o espaço dos intelectuais. O pensamento foi destronado e no seu lugar reinam os lugares-comuns, a tecnocracia isenta de humanismo e a autoridade bolorenta, inspirada em tempos passados. Então, a pergunta que fica é: qual é o lugar dos intelectuais, onde pode firmar-se a sua voz? Em suma, onde a intolerância prevalecer a ignorância prevalecerá também.
Este excerto reporta-nos para a necessidade de os intelectuais intervirem na sociedade civil. Os tempos que vivemos são tempos de intolerância e, sendo esta uma forma de ignorância, era esperado que os artistas, os escritores e os pensadores dessem o seu contributo para nos afastar dessa escuridão civilizacional em que estamos cair. Porém, é compreensível a relutância que existe nessa participação. Que intelectual é que estaria dispostos a intervir quando o resultado poderá ser o de deixar as palavras e a arte para sua tornar um fiscal de galináceos? Poucos, muitos poucos, estariam disponíveis para esse sacrifício. Por outro lado, se desejassem essa participação, então onde seria colocada a sua voz? Em blogues esquecidos? Em estações que rádio que não são ouvidas? Em programas televisivos transmitidos de madrugada? Em jornais e revistas que chegam a poucos? Aos intelectuais não está reservado nenhum prime time. Este espaço é ocupado por golpes palacianos de poder, por jogos de corte, por servilismo medíocre e por uma repetição contínua de argumentos vazios e falaciosos. Esse não é o espaço dos intelectuais. O pensamento foi destronado e no seu lugar reinam os lugares-comuns, a tecnocracia isenta de humanismo e a autoridade bolorenta, inspirada em tempos passados. Então, a pergunta que fica é: qual é o lugar dos intelectuais, onde pode firmar-se a sua voz? Em suma, onde a intolerância prevalecer a ignorância prevalecerá também.
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