quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Entre a Citação e o Fragmento (6)

CITAÇÃO

A intolerância gera intolerância. Depois de o general Perón ter despromovido Borges do seu posto de bibliotecário, colocando-o como fiscal de galináceos num mercado municipal. Borges disse o seguinte: "As ditaduras geram opressão, as ditaduras geram servilismo, as ditaduras geram crueldade; mas o mais abominável é o facto de gerarem estupidez." A intolerância é uma forma de estupidez, no sentido em que é incapaz de ver a riqueza pessoal e apenas consegue lidar com estereótipos. Pertence à mesma categoria que o preconceito, em que o processo racional é suplantado por um cliché, uma idée reçue.

Manguel, Alberto, No Bosque do Espelho, p. 160. Tradução de Margarida Santiago. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2009.

FRAGMENTO

Este excerto reporta-nos para a necessidade de os intelectuais intervirem na sociedade civil. Os tempos que vivemos são tempos de intolerância e, sendo esta uma forma de ignorância, era esperado que os artistas, os escritores e os pensadores dessem o seu contributo para nos afastar dessa escuridão civilizacional em que estamos cair. Porém, é compreensível a relutância que existe nessa participação. Que intelectual é que estaria dispostos a intervir quando o resultado poderá ser o de deixar as palavras e a arte para sua tornar um fiscal de galináceos? Poucos, muitos poucos, estariam disponíveis para esse sacrifício. Por outro lado, se desejassem essa participação, então onde seria colocada a sua voz? Em blogues esquecidos? Em estações que rádio que não são ouvidas? Em programas televisivos transmitidos de madrugada? Em jornais e revistas que chegam a poucos? Aos intelectuais não está reservado nenhum prime time. Este espaço é ocupado por golpes palacianos de poder, por jogos de corte, por servilismo medíocre e por uma repetição contínua de argumentos vazios e falaciosos. Esse não é o espaço dos intelectuais. O pensamento foi destronado e no seu lugar reinam os lugares-comuns, a tecnocracia isenta de humanismo e a autoridade bolorenta, inspirada em tempos passados. Então, a pergunta que fica é: qual é o lugar dos intelectuais, onde pode firmar-se a sua voz? Em suma, onde a intolerância prevalecer a ignorância prevalecerá também. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Entre o Mito e a Metáfora

A metáfora é a realidade em si, é a imagem sugestiva do real, a sua dimensão mítica. O mythos é assim a essência da metáfora, pois a sua expressão é pararacional e metaconsciente. A natureza da realidade, enquanto mito, tem sido menosprezada, uma vez que se atribui ao mito um carácter de fabulação, porém, é este que confere à realidade o estado de enigma, de dinâmica velada sujeita a uma revelação. Desta forma, no que diz respeito à compreensão da realidade humana, cósmica e divina, o mito e a metáfora são duas faces da mesma moeda - o que um ilustra a outra expressa, o que um sugere a outra diz. Se um é sabedoria, então a outra é linguagem.
A verdade, acerca da realidade, não pode ser compreendida através de meios racionais e lógicos, muito menos científicos, a arte é o único caminho. 

O Fragmento é Semente - III

A memória e a imaginação exaltam a natureza mítica da realidade, atribuindo-lhe um carácter de ideal ou de arquétipo.